Mutuípe, uma cidade com profundas raízes históricas, viu suas terras serem habitadas por povos indígenas até meados do século XIX. Com a chegada dos brancos, liderados por Manoel João da Rocha em 1849, os indígenas foram sendo gradualmente afastados, abrindo caminho para a colonização. A Fazenda Mutum, propriedade dos pioneiros, deu origem ao núcleo que hoje conhecemos como Mutuípe, nome derivado do tupi-guarani, significando "forte" em referência à abundância de aves mutum na região.
O progresso de Mutuípe começou a se concretizar em 1905 com a construção da Tramroad de Nazaré, conectando Mutuípe ao porto de Nazaré e impulsionando seu desenvolvimento. A história de Mutuípe é marcada pela Lei Estadual n.º 778, de 30 de maio de 1910, que transferiu o Distrito de Paz de Riacho da Cruz para o então próspero povoado. A emancipação político-administrativa de Mutum, que passou a se chamar Mutuípe, foi concretizada em 26 de julho de 1926, com a Lei n.º 1882. A cidade foi estabelecida oficialmente a partir de 12 de outubro do mesmo ano, quando Mutuípe se emancipou de Jiquiriçá, consolidando-se como uma cidade independente.
No entanto, o legado histórico de Mutuípe inclui uma dívida que assombra a cidade há décadas. Em 1973, a prefeitura desapropriou terras de João Ribeiro, um processo que se arrasta há mais de 40 anos, culminando em uma decisão do Supremo Tribunal Federal para o pagamento de um precatório que supera R$ 17 milhões.
O atual prefeito, Rodrigo Maicon de Santana Andrade, conhecido como Digão, anunciou recentemente planos para liquidar essa dívida, que tem impactado negativamente a capacidade de investimento da cidade. Com R$ 3 milhões em caixa, a prefeitura pretende firmar um acordo com os herdeiros de João Ribeiro, parcelando o pagamento até 2027. Caso o plano seja bem-sucedido, o próximo prefeito assumirá um município livre desse pesado encargo financeiro. liberando assim a cidade de um compromisso que consome parte significativa do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
A dívida, que começou a ser paga em 2013, já causou impactos significativos, como a suspensão das festividades de São João naquele ano. A eliminação desse compromisso permitirá que Mutuípe recupere sua capacidade de investir em áreas essenciais, beneficiando diretamente a população local.
Enquanto a cidade luta para se livrar dessa carga histórica, o espírito progressista que moldou Mutuípe no passado continua vivo, agora em busca de um futuro financeiro mais equilibrado.